►Animais também podem fazer fotossíntese?

Na escola aprendemos que as plantas são os seres autótrofos que fazem fotossíntese e os animais são os heterótrofos que precisam se alimentar para obter energia, mas será que isso é sempre verdade?



O que é a fotossíntese?

Primeiramente, para os mais esquecidos, a fotossíntese é aquele processo realizado pelas plantas (e também por algas e alguns seres unicelulares) no qual a energia solar é convertida em energia química e depois aproveitada no organismo.  Praticamente toda a energia de todos os seres vivos do planeta está relacionada direta ou indiretamente a este processo. É por causa da fotossíntese que as plantas são tão importantes para nós e para todos os outros organismos.

Porque animais não realizam fotossíntese?

Os seres do reino dos animais (do qual nós fazemos parte) não são capazes de realizar a fotossíntese por não terem em suas células a organela responsável por este processo, os cloroplastos. Por causa disso, os animais precisam se alimentar das plantas, obtendo assim a energia química necessária para seu desenvolvimento.  Se os animais tivessem cloroplastos em células próximas à superfície corporal, eles certamente seriam capazes de realizar fotossíntese, e é exatamente isso que faz da Elysia chlorotica o primeiro animal fotossintetizante.

O primeiro animal fotossintetizante

O primeiro animal capaz de realizar fotossíntese é a lesma marinha conhecida pelo nome cientifico Elysia chlorotica, é um animal pequeno, possuindo em média três centímetros de comprimento. Pode ser encontrado ao longo da costa leste dos Estados Unidos e do Canadá. Esta lesma, muito semelhante a uma folha, possui coloração esverdeada justamente pela presença de cloroplastos nas células de glândulas digestivas, que se distribuem por todo o corpo do animal.

De onde vêm os cloroplastos?

Os cloroplastos presentes no corpo da Elysia Chlorotica não são produzidos pelas células do animal, e nem estavam com ele no momento de seu nascimento. As lesmas mais jovens possuem coloração acinzentada ou avermelhadas e não possuem qualquer cloroplasto em suas células. Então de onde vêm estes cloroplastos? A resposta é surpreendente: a lesma rouba os cloroplastos da alga Vaucheria litorea. Quando se alimentam dessa alga, as lesmas mantêm os cloroplastos intactos e os armazenam no interior das células de suas glândulas digestivas.

A fotossíntese animal:

A partir do momento em que o animal possui cloroplastos bem distribuídos pelo corpo e é capaz de “ativar” o funcionamento deles, a fotossíntese passa a ocorrer exatamente da mesma forma que acontece nos vegetais: Na presença de luminosidade, a água e o gás carbônico são convertidos em glicose e oxigênio (nas mesmas proporções observadas na fotossíntese dos vegetais). Assim, a lesma se torna capaz de “produzir seu próprio alimento” e pode viver meses sem se alimentar.

Porém...

Em mais uma prova de que o Lamarckismo não está correto, as lesmas que possuem cloroplastos não são capazes de passar os cloroplastos para seus descendentes, que sempre nascem incapazes de realizar fotossíntese. Devido a este “pequeno” detalhe, alguns especialistas ficam com o pé atrás e preferem não classificar a Elysia chlorotica como um ser fotossintetizante, mas o fato de que, ao longo de sua vida, a lesma se torna um ser mixotrófico (autótrofo e heterótrofo ao mesmo tempo) é inegável.

A- Larva de vida livre da Elysia chlorotica

B- Elysia chlorotica jovem se alimentando pela primeira vez. Observe a coloração avermelhada (devido a ausência de cloroplastos)

C- Lesma adquirindo a coloração esverdeada (5 dias após se alimentar pela primeira vez)

D- Lesma adulta completamente desenvolvida.

Futuro evolutivo

Os caminhos da evolução são incertos e difíceis de prever, porém, posso dar um palpite para daqui a alguns milhões de anos:  Se, em algum momento, uma dessas lesmas for capaz de transportar cloroplastos para suas células reprodutivas, então ela será capaz de passar o caráter autotrófico para seus descendentes. Isso só é possível pois os cloroplastos são capaz de se duplicar independentemente e uma pequena quantidade de cloroplastos pode dar origem a todos os cloroplastos necessários para a fotossíntese de um indivíduo adulto. É muito provável, que em um futuro longínquo esta lesma torne-se definitivamente um animal autótrofo podendo dar origem a um ramo evolutivo completamente novo.

Qual proveito o homem pode tirar disso?

A descoberta de um animal com uma característica tão peculiar pode ajudar no desenvolvimento da engenharia genética, área que vem crescendo muito nas últimas décadas e que juntamente com a robótica, promete ser um dos destaques do século XXI.